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  • Rod. Transamazônica entre Rurópolis e Itaituba

  • 11 de Fevereiro de 2017

A Vida na Rod. Transamazônica entre Rurópolis e Itaituba no KM 42.

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Padre José Boeing ficou 12 horas neste atoleiro, no Km 42.


COMO SERIA SUA REAÇÃO AO FICAR 12 HORAS NUM ATOLEIRO?

                No dia 10 de Fevereiro, saindo de Micro Ônibus de Santarém com destino ao município de Trairão, estado do Pará onde trabalho como Missionário do Verbo Divino na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, pertencente à Prelazia de Itaituba, tendo o bispo Prelado Dom Wilmar Santin, fiquei 12 horas no atoleiro.

Uma Experiência de sofrimento, pois sai de São Paulo no aeroporto de Congonhas nesse dia 10 às 6:40 da manhã com destino a Santarém, passando por Brasília e Manaus. Cheguei as 13:30h em Santarém. Indo de taxi pra rodoviária onde peguei o Micro Ônibus as 15 h. Cheguei no atoleiro no km 45 da BR- 230 trecho Rurópolis-Itaituba às 21h horas. Como havia duas carretas atoladas no desvio, só passava carro pequeno e micro ônibus. O motorista acorrentou os 4 pneus. Assim passamos as 23:30h. Seguindo viagem com as correntes nos pneus chegamos ao segundo atoleiro 2 km para frente. Depois de ter lutado por mais de 3 horas 3 tratores simultâneos conseguiram puxar uma carreta com 27 mil toneladas com destino contrário. Isto é, a Santarém. Quando fomos passar no micro ônibus ficamos também atolados e em apenas dois metros pra puxar o tratorista cobrou RS 50,00.

Veio o sentimento de estar livre de atoleiros, pois 10 km para frente já teria asfalto, chegando no km 30, onde meu secretário da Paróquia estaria me esperando para me trazer a Trairão. Mas 1 quilômetro pra frente mais um obstáculo. Vindo de Itaituba uma carreta carregada de gás não conseguiu subir. Engataram um caminhão que não conseguiu. Isso era por volta das 2 horas da madrugada do dia 11/02. Fomos falar com o motorista da carreta que se negou a pagar R$ 100,00 para o tratorista. Então eu e outro passageiro fomos falar com o tratorista que pagaríamos para ele puxar a carreta. Disse-nos que não tinha óleo de motor e que já tinha acendido. Tendo ele uma moto e sabendo que meu secretário estava a 10 km de distância me esperando, fiz a proposta de lhe pagar R$ 50,00 reais pra me transportar até o km 30. Não aceitou, alegando estar cansado, mas nos prometeu que 5 horas da manhã iria buscar óleo pra o motor do trator. Então resolvi trocar de ônibus passando para o Ouro e Prata, pois como o secretário não veio com a Hillux da Paróquia até o atoleiro não havia alternativa que dormir no ônibus, que nos deixaria até o Trairão. Dormimos no ônibus e ao amanhecer a partir das 7 horas que deu a solução não foi o tratorista e sim os 2 ônibus que viam de Santarém. Ajudaram a puxar a carreta de gás. Ao sair do atoleiro no sentido de Itaituba estávamos livres. Mas o gesto solidário dos 2 motoristas do Ouro e Prata, passaram o atoleiro e retornaram para puxar uma carreta vazia que via atrás dos ônibus e atolou. Sendo assim já era 9 horas da manha do dia 11. Portanto, 12 horas parados num trecho de 3 quilômetros de estrada.

Qual o sentimento?

Como fiz o mestrado em Direito Ambiental em 2014/2015 na Faculdade Dom Helder Câmara em Belo Horizonte, estudei a BR-163 – Cuiabá-Santarém e Transamazônica BR-230, trecho oeste do Pará. A conclusão do estudo que fiz com a análise do que acontece no momento na região oeste do Pará. Nunca o governo federal, estadual e municipal valorizou a região. Agora todos querem comprar a ideia que está ruim porque as carretas de soja não podem passar nos atoleiros. Pergunto a estrada foi aberta para quem em 1970? Respondo para os colonos. Quando asfaltaram? Até hoje parcialmente. Quem está se beneficiando e ao mesmo tempo quebrando o asfalto mal construído? as 1.500 carretas diárias carregadas de soja do Mato Grosso

Concluo esse texto analisando que a culpa é dos governantes desses 40 anos e ao apoiar o modelo capitalista colonizador e devastador na Amazônia desde os portugueses. Mas a colonização vem desde no tempo o ciclo da borracha a partir de 1870. Depois a colonização da Amazônica com os grandes projetos. A partir de 1966 com os Grandes projetos de mineradoras como a Vale do Rio Doce e Jari. E os Projetos da SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) com o desmatamento ilegal e clandestino e a pecuária sem controle e a grande grilagem de terras. Também o ciclo do Ouro e garimpo em 1990.  Através da CPT sempre denunciamos a violência e injustiça e ceifou a vida de tantos sindicalistas e religiosos e religiosas como a Irmã Dorothy no dia 12 de Fevereiro de 2005. Depois hidrelétricas de Belo “monstro” e o desejo das instalações das barragens no rio Tapajós. Agora a devastação da Amazônia com o soja na Amazônia.

Agora meus amigos e amigas o ciclo da soja pra fechar a devastação total e abandono da Agricultura familiar e enriquecimento do Mato Grosso, sendo a BR-163 apenas corredor do progresso de uns e detrimento da miséria da população do Trairão e região. Agora com os atoleiros em Trairão existem milhares de carretas paradas e a prostituição liberada. Digo isso, porque ontem dia 16 de Fevereiro fui comprar nosso almoço, porque não temos cozinheira na casa paroquial. Ao chegar no restaurante na esquina da BR-163, centro de Trairão. Era 11:45h. 3 adolescentes bebendo cerveja. Ao eu chegar me ofereceram a bebida. Agradeci e fui pegar a marmitex já encomendada. Na saída uma adolescente me convida novamente pra sentar com elas. Voltei e fiz o seguinte diálogo com elas. De onde vocês são. Uma de 16 anos afirmou ser de Itaituba e as outras duas de Trairão com 13 e 14 anos. Ao afirmar que era Padre, pediram desculpa. E agora? Trairão, km 30, Miritituba, Caracol, Moraes de Almeida e Novo Progresso virou o lugar de prostituição. 

Outra experiência que relato. Um caminhoneiro no posto de gasolina com uma lata de cerveja na mão me pergunta ao eu abastecer onde era a casa “noturna”. Perguntei como era sua vida. Me contou que vive 40 dias nas estrada e 3 dias com a família. Me afirmou que tem 26 anos de casado com 3 filhos, sendo evangélico e feliz com a família. Mas nessa noite procurava uma mulher. Ao eu afirmar que era padre, passamos 2 horas conversando sobre a vida de um caminhoneiro e sua solidão.

Temos que pensar que oeste do Pará perdeu todo o controle sócio ambiental, cultural, moral e religiosos com a avalanche do capitalismo da soja. E digo isso porque pecuarista católico de Trairão me afirmou feliz que fez um contrato de suas terras para plantar 5 mil hectares de soja. Pergunto asfalto pra quem? Minhas 12 horas no atoleiro não é nada diante da solidão e abandono do agricultores familiares. Lutemos pela justiça e paz em favor dos pequenos e oprimidos que estão a “VER CARRETAS” NA BR-163.

Abraços

Dr. Pe. José Boeing,svd - zboeing@hotmail.com


Veja agora fotos da Rod. 163 entre Trairão e Novo Progresso.

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Fotos da BR 163 na altura da Vila Planalto.

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O Que salva é que o estado tem um povo lutador e trabalhador que mesmo em condições assim não desanima!!!

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